sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Eu comprei!! Vale a pena.

Pet shop Banho e Tosa!

Reflexões necessárias



A partir da década de 80, surgiram nos grandes centros urbanos mais desenvolvidos os serviços de banho e tosa nas clínicas veterinárias. Posteriormente, com os petshop, esses serviços passaram a um patamar de excelência, que até então não eram vistos com a mesma intensidade que conhecemos hoje. A grande explosão se deu nos anos 90, juntamente com o surgimento de inúmeras faculdades de medicina veterinária, cuja popularização se deu não só nos grandes centros, mas também na periferia das médias e pequenas cidades.

Inúmeros cursos para tosadores foram surgindo, o SENAC despertou para esta atividade, criando também o seu curso, pois a demanda por profissionais tornou-se uma necessidade imperiosa.

A indústria deu excelente contribuição, colocando à disposição desse ramo da economia, matéria-prima e equipamentos necessários ao desenvolvimento dessa atividade, cuja taxa de crescimento ultrapassa o do nosso PIB, chegando a 15% ao ano. As feiras pets no Rio e em São Paulo são um bom exemplo disso.

Além das clínicas, os serviços de banho e tosa passaram a ser oferecidos também por profissionais dos petshop desvinculados da atividade médica veterinária. Esses profissionais, guardadas as devidas proporções, carecem de uma boa formação acerca de diversos aspectos que envolvem as relações homem-animal, isto inclui: psicologia animal, estado de saúde, condições de higiene de pêlo, pele, práticas de relacionamento com os proprietários e melhorias na comunicação. Como consequência disso, vez por outra, são vítimas de inúmeras incompreensões por parte dos proprietários e por que não dizer, de alguns colegas veterinários.

Platão, 327 a.C. deu-nos essa máxima: “Bom seria se os filósofos fossem reis, ou os reis usassem a verdadeira filosofia para governar”. Querer que todos os veterinários sejam tosadores, ou que os tosadores usem a arte médica veterinária para prática de uma boa tosa, só mesmo em sonho de filósofo. Mas, em pleno século 21 podemos sim, ter profissionais que possam contar com o apoio dos médicos veterinários, do seu órgão de classe e das entidades vinculadas à medicina. Temos que enxergar os tosadores como nossos verdadeiros aliados, e não como adversários ou concorrentes. Por tratar-se de uma atividade tão difícil, extenuante e de vital importância para a sociedade e para a os médicos veterinários é que deveria ser encarada sob uma ótica mais carinhosa.

Não devemos nos esquecer que os profissionais de banho e tosa estão sujeitos a uma infinidade de incompreensões, bem como inúmeras fatalidades. Alguns animais saltam das mesas com uma rapidez que ofusca o olhar mais atento destes profissionais. E quantos não se quebram gravemente? Quantos não chegam às clínicas com luxações, torções, oriundas dessa relação de trabalho? Quantos não vêm a óbito por motivos desconhecidos e que não são investigados posteriormente?



Alguns animais jovens, sem as devidas defesas imunológicas, podem adoecer após uma tosa e um banho, mas nenhum proprietário compreenderá esse evento patológico e culparão sem dúvida o profissional que prestou os serviços. Sem falar em muitos outros que podem estar com uma determinada doença incubada, mas em virtude do estresse causado pela tosa e pelo banho, os sintomas se desenvolvem. O que falar dos animais que fogem de coleiras frouxas, mal colocadas pelos seus donos, que por pena ou por acharem que estão apertadas as afrouxam e entregam ao tosador ou ao recepcionista, mas quando viram as costas, seu estimado cãozinho foge colocando em pânico o coitado do dono do pet, ou o tosador? Já presenciei a fuga de um poodle na Noronha Torrezão. Fugiu da coleira de um entregador ao sair de um petshop, e o pobre do entregador atrás, carros freando, gente em pânico, aos gritos. Cenas iguais ocorrem diariamente pelas grandes cidades. Quantos animais chegam com pulgas ou carrapatos que não são visíveis aos olhos do dono? Quando tosados, os ectoparasitas aparecem com mais facilidade, mas nenhum proprietário admite que seu cão seja portador destes parasitas.

Aquela famosa frase: “─Veio daí com essas pulgas, ele nunca teve um carrapato!” é velha conhecida de todos os tosadores e donos de petshop.

Há situações que beiram o absurdo tal o cinismo com que alguns proprietários acusam o tosador ou os petshop pelos infortúnios dos seus animais.

Certa vez em uma clínica, uma chow chow que ia para banho a cada quinze dias, apresentou um pequeno eczema úmido na região dorsal do pescoço, causado por um prurido (coceira). Isso ocorreu dez dias após o banho. A proprietária ligou para a clínica se queixando, exigiu consulta grátis, ameaçou processar a clínica, dizendo ter sido o banho o causador daquele eczema. Valha-me São Francisco! Onde é que nós estamos? Mas, coloque-se no lugar do dono da clínica ou petshop, que estresse! O cão, coitado acaba sendo a maior vítima.

Quer agressão pior, do que ser arrancado do conforto do lar? Colocado numa gaiola, transportado em uma moto ou mesmo um carro utilitário? Posto numa mesa, ter os pêlos cortados com uma lâmina que pode mordiscar, puxar pêlos e pele? Algumas lâminas aquecem com o tempo de funcionamento. Virado para um lado, virado para outro, ter os pêlos dos ouvidos arrancados, focinho e patinhas raspadas, unhas cortadas, logo depois ser colocado num tanque, e na maioria das vezes encarar um banho de água fria? Fala sério!

Alguém já se deu conta o quanto isso é estressante? Há proprietários e proprietários, assim como tosadores e tosadores, enfim, há sempre os dois lados da moeda. O conselho que dou aos tosadores e ou aos donos de petshop, é a adoção de uma ficha clínica do animal, com todos os dados: particularidades, sensibilidades, alergias a produtos, manias, doenças etc., bem como um minucioso exame das condições do pêlo, da pele, dos genitais, olhos, ouvidos, boca, e de preferência na presença do cliente. Transparência é muito bom nas relações de prestação de serviços.



No mundo globalizado, não haverá espaço para amadores. Os tosadores e os petshop terão que ser extremamente profissionalizados, do contrário serão expulsos do mercado, que não aceita amadorismo. Nele, muitos profissionais serão chamados, mas pouco os escolhidos. O mercado não capacita os escolhidos, mas escolhe os mais capazes. Evitar cometer erros nas relações com os nossos clientes, onde o que está em jogo são os nossos melhores amigos, e que hoje são vistos e tratados como verdadeiros filhos é imperioso, errar é humano, mas perdoar é canino.



Dr. Pedro Nunes Caldas

É Médico veterinário, Cirurgião Geral e Ortopedista

Diretor da Veterinária Bom pastor

www.pedrovet.com.br